ENFIM, ALTO PARAÍSO!
Disco voador em frente a um hotel
Na minha adolescência, no auge das minhas especulações
esotéricas, vários eram os lugares que instigavam minha curiosidade, dentre
eles, claro, Alto Paraíso de Goiás.
Em janeiro de 2013, enfim fui lá e aqui registro fotos,
vídeos e, principalmente, informações que considero importantes, sobretudo para
mochileiros.
DICAS INICIAIS
Ao contrário do alarde que se faz na internet em relação à febre amarela naquela região, fui sem tomar vacina alguma. Não por decisão. É que não deu tempo (tem que ser tomada um mês antes da viagem). Em compensação, comprei um mega repelente e usei-o o tempo todo.
No final das contas, o pessoal de lá ri desse assunto. Dizem que não passa de um estereótipo exagerado por conta do caso de um turista que morreu, sim, de febre amarela, mas que a tinha contraído antes de ir para Alto Paraíso. De fato, depois de ir lá, você percebe que a coisa não é tão ameaçadora. Um repelente já rola e, inclusive, é necessário, já que a região é de mata. Não senti um único mosquito em toda a viagem, diga-se de passagem.
Protetor solar também é importante. Em janeiro, chove muito, mas, em compensação, quando a chuva dá uma trégua mínima, o sol vem irado.
COMO CHEGAR
Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek
Tudo começa pelo aeroporto de Brasília (Aeroporto
Internacional Juscelino Kubitschek).
Se for pegar táxi, prefira os que ficam parados bem na
saída do aeroporto. Não se deixe levar pelos que abordam turistas já no
desembarque, pois costumam ser picaretas.
Parada de ônibus logo em frente ao aeroporto
A parada de ônibus também fica bem em frente ao
aeroporto. Caso não haja pressa, há linhas para as duas rodoviárias, levando
trinta minutos para a interestadual e quarenta para a municipal, em média.
Rodoviária Intermunicipal
Há duas rodoviárias: a interestadual, nos arredores da
cidade (tal qual o aeroporto, mas não próximo dele) e a intermunicipal, no
Plano Piloto, coração de Brasília (perto da Praça dos Três Poderes, dos
Ministérios e tal).
Há duas empresas com destino a Alto Paraíso, a Real
Expresso e a Santo Antônio. As duas tem box de venda na rodoviária
interestadual, mas os ônibus da Santo Antônio não saem de lá. É preciso ir
pegá-los na rodoviária intermunicipal.
Segundo o pessoal de Alto Paraíso, os horários de ônibus
mudam, sendo preciso informar-se deles próximo à viagem. As duas empresas tem
serviço de compra de bilhete pela internet, o que aconselho, pois só há dois
horários de saída em cada uma delas e os ônibus, principalmente os da Real
Expresso, estão sempre lotados.
Quando fui, os ônibus da Real Expresso saiam às 10:00 e
às 20:00. Cheguei na interestadual às 9:30 e não consegui passagem nem para o
extra que colocaram para as 10:15.
Na Santo Antônio, os ônibus saiam às 7:00 e às 13:30.
Comprei o bilhete no guichê da interestadual para as 13:30 e fui para a
intermunicipal de metrô. Há acesso à Estação Shopping pela rodoviária mesmo.
Deve-se pegar a linha no sentido da Estação Central e ir até o fim dela. Ao
sair do metrô já se está na rodoviária intermunicipal. O bilhete custou R$ 3,00
e cheguei em menos de vinte minutos.
Espera exaustiva pelo ônibus
Não há “a” melhor empresa. Existe a menos pior e é a Real
Expresso. Ela não para tanto quanto a Santo Antônio. Mas as duas tem
funcionários estressados e estúpidos, que tratam os passageiros como se
estivessem prestando um favor.
Em ambas, informação tem que ser cavada com desgaste de
paciência. Após quase quinze minutos na fila para comprar passagem na Real
Expresso, a funcionária que organizava as filas, para a qual eu já tinha falado
meu destino duas vezes, de repente me disse sorridente que “ah! Não há mais
passagem. Só para as oito da noite.” Se eu não tivesse perguntado se eu estava
na fila certa ela teria me deixado ali por mais quinze minutos para quebrar a
cara no guichê.
A Santo Antônio, nossa! O ônibus, que deveria sair às
13:30, só veio aparecer la pelas 15:30 e, ainda assim, fora da parada, no meio
da rua. Durante o atraso, nenhum funcionário veio para informar nada. Também
não adiantava ir ao guichê, pois eles só diziam que estava atrasado e que não
sabiam que horas chegaria (!). Quando finalmente veio um funcionário, apontou
para a rua e disse “é aquele ali”. Ao chegar em Sobradinho, o motorista acusou
um problema de falta de água no motor ou algo do tipo e, em Planaltina do DF
(há uma outra Planaltina, a de Goiás, vizinha à do DF), ele deu um piti e disse
que não seguiria viagem. Um outro ônibus da empresa chegou, indo para Brasília,
e os passageiros tiveram que descer para que nós subíssemos e prosseguíssemos a viagem.
Cheguei em Alto Paraíso já perto de 23:00 e com uma enxaqueca de rachar.
A CHEGADA
Rodoviária de Alto Paraíso
A rodoviária de Alto Paraíso fica a um quarteirão da
avenida principal.
Informação turística de Alto Paraíso
Há um posto de informação turística na avenida principal,
próximo à altura da rodoviária.
HOSPEDAGEM
Pousada Alfa e Ômega (esquina)
Fiquei hospedado na Pousada Alfa e Ômega, a dois
quarteirões da avenida principal, ao lado da agência dos correios e na esquina
oposta à da prefeitura.
O pessoal da pousada foi super-atencioso comigo. Seu
Pedro, que me recepcionou quase de madrugada; Conceição, um amor de pessoa,
cuidadosa, preocupada em dar dicas e conselhos preciosos sobre a cidade,
chegando até a propor interação entre mim e os outros hóspedes; Tiago,
prestativo, sereno, competente; as meninas da cozinha, sempre de bom humor,
simpáticas. A harmonia deles reflete no local e vice-versa. É impossível não se
sentir bem lá. Impossível.
Entrada do meu chalé
Para quem foi buscando experiências holísticas como eu, a
pousada já era por si só um atrativo
que se bastava.
Altar de Krishna
O Jardim de Buda
A piscina
No meu quarto (suite paraíso jade) havia, esperando por mim, um
altar para Krishna e Rada.
Daí em diante, o jardim de Buda, a piscina com o
olho de Hórus refletido na água, etc., só iam somando à grande paz que
recuperei nesse viagem.
A CIDADE DE ALTO PARAÍSO
Praça e Avenida centrais de Alto Paraíso
Não tive tempo de visitar as comunidades alternativas no
interior de Alto Paraíso. Fiquei apenas na cidade.
No início, tive medo de sair por aí. Coisa de quem mora
em Fortaleza e experimenta esse sentimento constantemente. Não demorou para eu
sentir que estava num lugar onde todos vivem em irmandade. Perdi a conta das
vezes em que pessoas me pararam e começaram a conversar comigo como se me
conhecessem há muito tempo, não de forma invasiva, mas suave, sorridente,
acolhedora.
Disco voador na entrada da cidade
Uma pousada numa das colinas
A cidade vibra misticismo, falso ou verdadeiro. Digo
falso porque alguns lojistas não parecem bem místicos. Apenas entram na onda
para faturar. A maioria, no entanto, dá mostras de conhecimento e paixão por
essa visão de mundo.
GASTRONOMIA
Restaurante Jatô
Todas as noites eu ia a uma pizzaria de um italiano que
fica próximo à praça central. A pizza é uma delícia e pode ser comprada por
fatia. E haja vinho também. Naquele frio, sentar na varanda do restaurante e
ver as pessoas passando, as milhares de línguas sendo faladas ao redor (havia
mais estrangeiro do que brasileiro, juro), tornava tudo muito especial.
Meus almoços eu os fazia num restaurante que fica numa
rua paralela à avenida principal. Chama-se Jatô. Foi dica de uma menina da
padaria. A comida lá é deliciosa e incrivelmente barata para a qualidade e
lugar.
Minha companheira
Vale a pena alugar uma bibicleta para andar pelos
arredores da cidade. Dá até para visitar alguns pontos mais afastados, como
algumas cachoeiras. Nesse caso, claro, é necessário um bom preparo físico, que
eu não tinha (e ainda não tenho).
Desde a minha adolescência eu não sabia mais o que era
pegar uma bicicleta e sair por aí. Como se diz no Ceará: matei o verme.
Explorei a cidade de ponta a ponta e ainda fui a uma cachoeira próxima.
A caminho do ponto mais alto da cidade
Quando eu chegava ao topo de um morro do qual se tem uma
vista completa da cidade, vi um rapaz vindo numa outra bicicleta do lado
oposto. Uma experiência louca. Ele parou extasiado, olhando para algum lugar
atrás de mim. Lá atrás estava um arco-íris de cores vivas, pairando acima das
árvores e fincando ambas as extremidades nos limites da cidade. Algo surreal.
Era como se a cidade estivesse com uma coroa colocada sobre ela com perfeição
geográfica. Depois de tirar uma foto do rapaz e pedir a ele que tirasse uma
minha, ele me indagou sobre o meu sotaque e eu disse que era de Fortaleza. De
novo, surreal. Pelo menos para mim. Ele também era de Fortaleza. Tinha vendido
sua agência de publicidade e para morar em Alto Paraíso. “Prefiro ser garçom
aqui do que qualquer outra coisa em qualquer outro lugar.” Tenho uma inveja
branca das pessoas desapegadas, capazes de proezas desse tipo. Fico muito feliz
por ele e um tanto desapontado comigo por estar longe desse nível de
consciência.
CACHOEIRA
Cachoeira do Rio dos Couros
Procurei por uma excursão a algumas da cachoeiras que
ficavam mais distantes e acabei contratando os serviços da agência Aventuras
Ecotur. Super recomendo. Atenciosos e precisos. No horário marcado, lá estava o
grande Deni na porta da pousada.
Arco-íris no final da trilha
Para quem vai visitar as cachoeiras, o Deni é o cara.
Deixando de fora a simpatia, que já ficou mais do evidente que faz parte da
maioria dos moradores da chapada, o cara é um profissional de primeira.
Pé da segunda queda d'água
Lá
pelas tantas, descemos um paredão de pedras e ficamos bem perto de uma das
quedas d’água sentindo a força da natureza. Impagável.
Banho na primeira queda d'água
No final da trilha, no
mergulho para relaxar o corpo da canseira, deu para entrar debaixo da queda
d’água, que estava violenta devido à vazão forte do rio acima (chovia muito
naqueles dias). Medroso que sou, não quis ir de cara, mas o Deni conhecia bem o
lugar e passou muita segurança ao ensinar os pontos de apoio.
A ida e a vinda são tão espetaculares quanto a cachoeira
em si. As paisagens de tirar o fôlego não cessam. A minha preferida foi a da
chapada em si, extensa, de terra avermelhada, vista de um dos pontos mais altos
do caminho. Sente-se mesmo a energia da terra correndo e passando por você.
A VOLTA
Comprei minha passagem de volta no primeiro dia em Alto
Paraíso. E fiz certo. As empresas não tem um controle legal das vendas e muitas
pessoas que estavam lá para viajar tiveram que esperar para o dia seguinte.
Deixei Alto Paraíso por volta das 13:30 e cheguei em
Brasília por volta das 17:00. Meu voo de volta estava programado para o dia
seguinte, às 12:00, então eu tive que buscar um paradeiro.
Vista do hotel em Brasília
Eu estava quebrado.
Pedalei e me aventurei tanto que acabei moendo meu corpo de sedentário. Então
decidi me dar um presente final naquela viagem e me hospedei no Setor
Hoteleiro, caríssimo, bem próximo da Câmara, dos Ministérios e de toda a
palhaçada política. A janela do meu quarto ficava de frente para a Torre de Tv
e a fonte da praça Buriti.
Fonte da Praça Buriti
Vista da Torre da TV (Câmara dos Três Poderes ao fundo)
Posso dizer que terminei minha viagem mística de forma
bem capitalista. Minha alma estava energizada, mas, em compensação, meu corpo
estava moído e precisava de conforto. Uso essa desculpa para mim mesmo de forma
a não pensar que traí o intuito da viagem.
O QUASE FIM
Avião entrando numa tempestade
Na volta para Fortaleza, o avião foi pego por uma tempestade que causou uma turbulência preocupante. Medroso que sou, quase tive um troço quando o piloto perguntou se havia algum médico entre os passageiros. Ver tudo dançando heavy metal ao meu redor e ouvir isso não foi muito agradável.
Mas, no fim, não foi o fim.
Estou pronto para colocar a mochila nas costas de novo! Espero que em breve.