domingo, 15 de setembro de 2013

ALTO PARAÍSO - JANEIRO DE 2013

ENFIM, ALTO PARAÍSO!

Disco voador em frente a um hotel



Na minha adolescência, no auge das minhas especulações esotéricas, vários eram os lugares que instigavam minha curiosidade, dentre eles, claro, Alto Paraíso de Goiás.

Em janeiro de 2013, enfim fui lá e aqui registro fotos, vídeos e, principalmente, informações que considero importantes, sobretudo para mochileiros.




DICAS INICIAIS


Ao contrário do alarde que se faz na internet em relação à febre amarela naquela região, fui sem tomar vacina alguma. Não por decisão. É que não deu tempo (tem que ser tomada um mês antes da viagem). Em compensação, comprei um mega repelente e usei-o o tempo todo. 

No final das contas, o pessoal de lá ri desse assunto. Dizem que não passa de um estereótipo exagerado por conta do caso de um turista que morreu, sim, de febre amarela, mas que a tinha contraído antes de ir para Alto Paraíso. De fato, depois de ir lá, você percebe que a coisa não é tão ameaçadora. Um repelente já rola e, inclusive, é necessário, já que a região é de mata. Não senti um único mosquito em toda a viagem, diga-se de passagem.

Protetor solar também é importante. Em janeiro, chove muito, mas, em compensação, quando a chuva dá uma trégua mínima, o sol vem irado.




COMO CHEGAR



 Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek


Tudo começa pelo aeroporto de Brasília (Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek).
Se for pegar táxi, prefira os que ficam parados bem na saída do aeroporto. Não se deixe levar pelos que abordam turistas já no desembarque, pois costumam ser picaretas.

Parada de ônibus logo em frente ao aeroporto


A parada de ônibus também fica bem em frente ao aeroporto. Caso não haja pressa, há linhas para as duas rodoviárias, levando trinta minutos para a interestadual e quarenta para a municipal, em média.



Rodoviária Intermunicipal


Há duas rodoviárias: a interestadual, nos arredores da cidade (tal qual o aeroporto, mas não próximo dele) e a intermunicipal, no Plano Piloto, coração de Brasília (perto da Praça dos Três Poderes, dos Ministérios e tal).

Há duas empresas com destino a Alto Paraíso, a Real Expresso e a Santo Antônio. As duas tem box de venda na rodoviária interestadual, mas os ônibus da Santo Antônio não saem de lá. É preciso ir pegá-los na rodoviária intermunicipal.

Segundo o pessoal de Alto Paraíso, os horários de ônibus mudam, sendo preciso informar-se deles próximo à viagem. As duas empresas tem serviço de compra de bilhete pela internet, o que aconselho, pois só há dois horários de saída em cada uma delas e os ônibus, principalmente os da Real Expresso, estão sempre lotados.

Quando fui, os ônibus da Real Expresso saiam às 10:00 e às 20:00. Cheguei na interestadual às 9:30 e não consegui passagem nem para o extra que colocaram para as 10:15.

Na Santo Antônio, os ônibus saiam às 7:00 e às 13:30. Comprei o bilhete no guichê da interestadual para as 13:30 e fui para a intermunicipal de metrô. Há acesso à Estação Shopping pela rodoviária mesmo. Deve-se pegar a linha no sentido da Estação Central e ir até o fim dela. Ao sair do metrô já se está na rodoviária intermunicipal. O bilhete custou R$ 3,00 e cheguei em menos de vinte minutos.


Espera exaustiva pelo ônibus


Não há “a” melhor empresa. Existe a menos pior e é a Real Expresso. Ela não para tanto quanto a Santo Antônio. Mas as duas tem funcionários estressados e estúpidos, que tratam os passageiros como se estivessem prestando um favor.

Em ambas, informação tem que ser cavada com desgaste de paciência. Após quase quinze minutos na fila para comprar passagem na Real Expresso, a funcionária que organizava as filas, para a qual eu já tinha falado meu destino duas vezes, de repente me disse sorridente que “ah! Não há mais passagem. Só para as oito da noite.” Se eu não tivesse perguntado se eu estava na fila certa ela teria me deixado ali por mais quinze minutos para quebrar a cara no guichê.

A Santo Antônio, nossa! O ônibus, que deveria sair às 13:30, só veio aparecer la pelas 15:30 e, ainda assim, fora da parada, no meio da rua. Durante o atraso, nenhum funcionário veio para informar nada. Também não adiantava ir ao guichê, pois eles só diziam que estava atrasado e que não sabiam que horas chegaria (!). Quando finalmente veio um funcionário, apontou para a rua e disse “é aquele ali”. Ao chegar em Sobradinho, o motorista acusou um problema de falta de água no motor ou algo do tipo e, em Planaltina do DF (há uma outra Planaltina, a de Goiás, vizinha à do DF), ele deu um piti e disse que não seguiria viagem. Um outro ônibus da empresa chegou, indo para Brasília, e os passageiros tiveram que descer para que nós subíssemos e prosseguíssemos a viagem. Cheguei em Alto Paraíso já perto de 23:00 e com uma enxaqueca de rachar.



A CHEGADA



Rodoviária de Alto Paraíso


A rodoviária de Alto Paraíso fica a um quarteirão da avenida principal.

Informação turística de Alto Paraíso

Há um posto de informação turística na avenida principal, próximo à altura da rodoviária.



HOSPEDAGEM



Pousada Alfa e Ômega (esquina)



Fiquei hospedado na Pousada Alfa e Ômega, a dois quarteirões da avenida principal, ao lado da agência dos correios e na esquina oposta à da prefeitura.

O pessoal da pousada foi super-atencioso comigo. Seu Pedro, que me recepcionou quase de madrugada; Conceição, um amor de pessoa, cuidadosa, preocupada em dar dicas e conselhos preciosos sobre a cidade, chegando até a propor interação entre mim e os outros hóspedes; Tiago, prestativo, sereno, competente; as meninas da cozinha, sempre de bom humor, simpáticas. A harmonia deles reflete no local e vice-versa. É impossível não se sentir bem lá. Impossível.

Entrada do meu chalé


Para quem foi buscando experiências holísticas como eu, a pousada  já era por si só um atrativo que se bastava.

Altar de Krishna


O Jardim de Buda

A piscina




No meu quarto (suite paraíso jade) havia, esperando por mim, um altar para Krishna e Rada.
Daí em diante, o jardim de Buda, a piscina com o olho de Hórus refletido na água, etc., só iam somando à grande paz que recuperei nesse viagem.



A CIDADE DE ALTO PARAÍSO



Praça e Avenida centrais de Alto Paraíso




Não tive tempo de visitar as comunidades alternativas no interior de Alto Paraíso. Fiquei apenas na cidade.
No início, tive medo de sair por aí. Coisa de quem mora em Fortaleza e experimenta esse sentimento constantemente. Não demorou para eu sentir que estava num lugar onde todos vivem em irmandade. Perdi a conta das vezes em que pessoas me pararam e começaram a conversar comigo como se me conhecessem há muito tempo, não de forma invasiva, mas suave, sorridente, acolhedora.

Disco voador na entrada da cidade

Uma pousada numa das colinas



A cidade vibra misticismo, falso ou verdadeiro. Digo falso porque alguns lojistas não parecem bem místicos. Apenas entram na onda para faturar. A maioria, no entanto, dá mostras de conhecimento e paixão por essa visão de mundo.



GASTRONOMIA



Restaurante Jatô


Todas as noites eu ia a uma pizzaria de um italiano que fica próximo à praça central. A pizza é uma delícia e pode ser comprada por fatia. E haja vinho também. Naquele frio, sentar na varanda do restaurante e ver as pessoas passando, as milhares de línguas sendo faladas ao redor (havia mais estrangeiro do que brasileiro, juro), tornava tudo muito especial.
Meus almoços eu os fazia num restaurante que fica numa rua paralela à avenida principal. Chama-se Jatô. Foi dica de uma menina da padaria. A comida lá é deliciosa e incrivelmente barata para a qualidade e lugar.

Minha companheira


Vale a pena alugar uma bibicleta para andar pelos arredores da cidade. Dá até para visitar alguns pontos mais afastados, como algumas cachoeiras. Nesse caso, claro, é necessário um bom preparo físico, que eu não tinha (e ainda não tenho).
Desde a minha adolescência eu não sabia mais o que era pegar uma bicicleta e sair por aí. Como se diz no Ceará: matei o verme. Explorei a cidade de ponta a ponta e ainda fui a uma cachoeira próxima.

A caminho do ponto mais alto da cidade


Quando eu chegava ao topo de um morro do qual se tem uma vista completa da cidade, vi um rapaz vindo numa outra bicicleta do lado oposto. Uma experiência louca. Ele parou extasiado, olhando para algum lugar atrás de mim. Lá atrás estava um arco-íris de cores vivas, pairando acima das árvores e fincando ambas as extremidades nos limites da cidade. Algo surreal. Era como se a cidade estivesse com uma coroa colocada sobre ela com perfeição geográfica. Depois de tirar uma foto do rapaz e pedir a ele que tirasse uma minha, ele me indagou sobre o meu sotaque e eu disse que era de Fortaleza. De novo, surreal. Pelo menos para mim. Ele também era de Fortaleza. Tinha vendido sua agência de publicidade e para morar em Alto Paraíso. “Prefiro ser garçom aqui do que qualquer outra coisa em qualquer outro lugar.” Tenho uma inveja branca das pessoas desapegadas, capazes de proezas desse tipo. Fico muito feliz por ele e um tanto desapontado comigo por estar longe desse nível de consciência.



CACHOEIRA



Cachoeira do Rio dos Couros


 Procurei por uma excursão a algumas da cachoeiras que ficavam mais distantes e acabei contratando os serviços da agência Aventuras Ecotur. Super recomendo. Atenciosos e precisos. No horário marcado, lá estava o grande Deni na porta da pousada.

Arco-íris no final da trilha


Para quem vai visitar as cachoeiras, o Deni é o cara. Deixando de fora a simpatia, que já ficou mais do evidente que faz parte da maioria dos moradores da chapada, o cara é um profissional de primeira. 

Pé da segunda queda d'água


Lá pelas tantas, descemos um paredão de pedras e ficamos bem perto de uma das quedas d’água sentindo a força da natureza. Impagável.

Banho na primeira queda d'água


No final da trilha, no mergulho para relaxar o corpo da canseira, deu para entrar debaixo da queda d’água, que estava violenta devido à vazão forte do rio acima (chovia muito naqueles dias). Medroso que sou, não quis ir de cara, mas o Deni conhecia bem o lugar e passou muita segurança ao ensinar os pontos de apoio.

A ida e a vinda são tão espetaculares quanto a cachoeira em si. As paisagens de tirar o fôlego não cessam. A minha preferida foi a da chapada em si, extensa, de terra avermelhada, vista de um dos pontos mais altos do caminho. Sente-se mesmo a energia da terra correndo e passando por você.


A VOLTA



Comprei minha passagem de volta no primeiro dia em Alto Paraíso. E fiz certo. As empresas não tem um controle legal das vendas e muitas pessoas que estavam lá para viajar tiveram que esperar para o dia seguinte.

Deixei Alto Paraíso por volta das 13:30 e cheguei em Brasília por volta das 17:00. Meu voo de volta estava programado para o dia seguinte, às 12:00, então eu tive que buscar um paradeiro.

Vista do hotel em Brasília



Eu estava quebrado. Pedalei e me aventurei tanto que acabei moendo meu corpo de sedentário. Então decidi me dar um presente final naquela viagem e me hospedei no Setor Hoteleiro, caríssimo, bem próximo da Câmara, dos Ministérios e de toda a palhaçada política. A janela do meu quarto ficava de frente para a Torre de Tv e a fonte da praça Buriti.

Fonte da Praça Buriti

Vista da Torre da TV (Câmara dos Três Poderes ao fundo)


Posso dizer que terminei minha viagem mística de forma bem capitalista. Minha alma estava energizada, mas, em compensação, meu corpo estava moído e precisava de conforto. Uso essa desculpa para mim mesmo de forma a não pensar que traí o intuito da viagem.


O QUASE FIM


Avião entrando numa tempestade

Na volta para Fortaleza, o avião foi pego por uma tempestade que causou uma turbulência preocupante. Medroso que sou, quase tive um troço quando o piloto perguntou se havia algum médico entre os passageiros. Ver tudo dançando heavy metal ao meu redor e ouvir isso não foi muito agradável.

Mas, no fim, não foi o fim.

Estou pronto para colocar a mochila nas costas de novo! Espero que em breve.